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quarta-feira, fevereiro 04, 2004

O emplastro também é artigo de jornal

Um «Animal» à solta
A carreira 78 dos STCP tem um dos maiores percursos na cidade do Porto, serpenteando pela cidade tendo como bases o castelo do Queijo, na Foz, e o Hospital de S. João. No dia da confirmação do título, A BOLA apanhou boleia num autocarro outrora de dois pisos e hoje tão moderno que as próximas paragens são anunciadas por uma voz sensual. A viagem teria sido perfeitamente banal se a meio do percurso, em Sá da Bandeira, não tivesse entrado o Animal.

É uma figura conhecida sobretudo dos meios audiovisuais. Os nossos colegas operadores de câmara que cobrem acontecimentos desportivos, e não só, costumam ser surpreendidos pela súbita entrada em plano deste adepto com uma atracção especial pelas câmaras. Quem seguiu a festa portista pela TV quase de certeza que o viu aparecer em todos os canais...
A BOLA encontrou o Animal mais cedo, a mais de duas horas do início do jogo. O homem esperava o autocarro em Sá da Bandeira, no coração da baixa, e entrou pela chamada porta do cavalo, pois a viatura ia cheia como um ovo e não chegava para as encomendas.
— Vamos embora senhor motorista que não cabe mais um mouro!, ouviu-se.
— Só falas assim porque estás cá dentro, foi a resposta.
Já com o Animal devidamente acondicionado, o autocarro arrancou deixando muita gente na paragem, abrigada da chuva que caía com alguma intensidade. A festa começava sobre rodas.
— Quem é o teu pai?
Quem fez a pergunta já sabe o que a casa gasta mas há sempre quem não esteja por dentro. A resposta animalesca foi pronta:
— É o Pinto da Costa!
Mais perguntas:
—Quem é a tua mãe?
— É o Vítor Baía.
Apesar de enlatados, os passageiros desatam à gargalhada enquanto o protagonista grita a sua frase de ordem contra o Benfica.
— Qual é o teu clube?, pergunta-se lá na frente.
— F. C. Porto, Boavista, Portugal e o Leixões!, salta logo a resposta.
Mais gargalhadas.
— Não conheces? É o Wally, é mais conhecido que o Presidente da República, diz ele para ela, bem aconchegados pela pressão humana.
O Caíca, que tem um boné dos SuperDragões, pede ao Animal o carimbo da ordem — um beijo repenicado na bochecha. Porque uma das facetas deste carismático adepto é também o facto de ser um beijoqueiro.
A viagem está quase a terminar. «Campeões, campeões!», grita-se no autocarro. As portas abrem-se antes da paragem e alguns dos passageiros podem finalmente respirar fundo. O Animal segue na crista da vaga, cada vez mais próximo do Estádio das Antas, onde a sua chegada é saudada com um bruá.
O 78 segue a sua marcha, agora lenta por causa das obras que ali decorrem e do trânsito compacto, e quer-me parecer que o Animal e mais uns tantos viajaram de borla. Se o pica aparecesse também ia ter uma surpresa pois o actor principal desta estória tem um passe social muito próprio: uma morena nua que deixou os mais miúdos com um sorriso de orelha a orelha. Será que é dela a voz aveludada dos avisos sonoros do autocarro do título?


Já agora vejam lá o site do emplastro.
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